Eu tinha dezesseis anos e separava o mundo em áreas estanques: matemática era matemática, literatura era literatura, diversão era diversão e física era insuportável.
Um ano mais tarde, já na UnB, meu queixo cairia quando eu descobrisse que existia também sociologia e antropologia e filosofia e todas as outras disciplinas que têm como função precípua desfazer fronteiras – mas naquela época já me foi um choque suficiente meu professor de literatura declarar com todas as letras do seu lugar catedrático defronte ao quadro-negro:
“Entre os poetas contemporâneos, destaco Arnaldo Antunes”.
Como assim?, eu me perguntei. Você tá brincando. Arnaldo Antunes? Arnaldo-Titãs-Antunes? Arnaldo-bichos-escrotos-Antunes?
Ele mostrou alguns poemas e explodiu em pedaços um muro das minhas certezas internas: então um cantor que canta palavrão pode ser um poeta, que o professor ensina junto com Manoel Bandeira e todos os outros. Primeiro passo para passar o resto da vida descobrindo que físicos são também pintores, que músicos são matemáticos, que uma jornalista pode ser desenhista e gostar muito, muito mesmo de pensar em cidades e em urbanismo.
Estreia amanhã no Museu dos Correios uma exposição da poesia concreta do Arnaldo Antunes, chamada palavra emmovimento. São colagens, pinturas, gravuras, adesivos reunidos ao longo dos últimos trinta anos – colagens, pinturas e gravuras que me ensinaram que se perder pode ser se encontrar.
Para o professor Guilherme, com uma 😉 de muito obrigada.
Bora?
Palavra emmovimento – exposição da poesia concreta de Arnaldo Antunes
Abertura amanhã, 10/09, às 19h
Museu dos Correios
SCS, Qd 4, Bloco A
Visitação de sexta, 11/09 a 8/11
Terça a sexta-feira, das 10h às 19h, sábados, domingos e feriados, das 12h às 18h
-
mariel
-
Mari