Fiel à sua própria tradição de um teatro que faz pensar e que implica o público, o Grupo Liquidificador estreia amanhã uma curtíssima temporada de seu espetáculo novo, o TecnoMagia.

Já contei pra vocês outras vezes como mexe comigo a narrativa aberta do teatro dessa turma. A gente ali é tudo menos espectador. Primeiro porque nunca existe a fronteira entre palco e público. Segundo, e principalmente, porque não dá pra fingir que tudo aquilo ali de que se trata a peça não é com você.

Desta vez, como o nome indica, a peça envolve dois temas inescapáveis a todos nós, em qualquer conversa contemporânea: nosso vício por este aparelho por meio do qual você me lê neste momento e nossa veia mística, cada vez mais acentuada, provavelmente inclusive para que consigamos lidar com esse supracitado vício.

Numa linguagem que bem alinhada à narrativa aberta que é marca do Liquidificador, desta vez a própria estrutura da peça é contaminada pelo acaso e pela interação com o público. A cada encenação, uma espécie de jogo de tarô vai guiar o espetáculo: TecnoMagia é feita de doze esquetes, mas a cada noite apenas três delas serão sorteadas pela plateia.

Assim, aleatoriamente, entram em cena personagens que nos colocam diante de quem somos nas redes sociais, dos mistérios que pautam (ou que inventamos?) para as nossas vidas, dos medos, das personas, das mentiras que surgem quando nos relacionamos por meio dessas máquinas loucas que são ao mesmo tempo espelhos negros e pontes de interação.

Daquele tipo de teatro que não necessariamente diverte nem provavelmente te deixa em paz – mas, ao contrário, te tira da sua zona de conforto em todos os sentidos do termo. Dizem por aí na internet que é no fim dela que a vida começa.