Mal comparando, é como se a Conceição dissesse: “chega lá em casa, o Chico vai lançar o disco dele por lá hoje à noite”. Milton Hatoum é o Chico da literatura brasileira, pra mim, hoje (o que é uma frase meio malvada com o Chico, que também é escritor, né?, mas paciência: essa sou eu, sendo sincera). E ele vai lançar o livro novo, A Noite da Espera, hoje no Beira da Asa Sul, e amanhã na banquinha da Conceição, na 308 Sul.

Muito já foi dito sobre a nova trilogia do Hatoum, que se passa em grande parte aqui na nossa cidade. Estou mais que curiosa: estou entusiasmada. Porque, pelo que fiquei sabendo, concordo com tudo: com a necessidade de uma literatura que repasse a ditadura militar, pela importância de jogar luz sobre esse nosso momento de desilusão, e também, vamos falar claramente, com essa atmosfera de Brasília como cidade de utopia e de distopia, que evoca essa sensação de permanente inacabado, de permanente construção.

Meu assunto aqui nem é o livro que não li ainda: é a generosidade desses lançamentos tão íntimos com que Hatoum decidiu nos presentear.

Porque, olha, e digo sem ter lido ainda: as referências feitas a Brasília como paisagem descrita em A Noite da Espera não me parecem as mais elogiosas. É mesmo aquela Brasília meio vazia, meio em suspenso, utopia interrompida que parece aparecer ali. Não é a cara que a gente mais ama ver no espelho – mas, sabe?, tudo bem. Primeiro porque essa é uma cara que existe, também, a gente não pode negar. E segundo porque, quando optou por vir nos trazer o livro ali onde a gente mais se reconhece como cidade – no Beira, na Banquinha -, o Hatoum nos mostra que sabe que a cidade não é só o vazio, a cidade interrompida.

Ele veio nos encontrar, nos olhar nos olhos, nos entregar o livro dele que fala da nossa cidade. E eu vou lá.