O teatro de Brasília está me deixando sem palavras. Nos últimos quatro dias, fui atraída duas vezes para a plateia de peças brasilienses, sempre pela voz encantada de amigos – o que seria de nós sem eles? – que sentenciaram: vá, você tem que ir. E eu tinha mesmo.
Rinoceronte, da Agrupação Teatral Amacaca, é uma metáfora muito bonita sobre resistir à brutalidade, ao mau humor reinante, à dureza que se infiltra na vida cotidiana e vai arrebatando as pessoas ao nosso redor. É uma peça sobre resistência, com um texto clássico de Ionesco e uma montagem escandalosamente linda.
Hugo Rodas, sempre ele, fez um trabalho tão expressivo e impressionante com aqueles atores e atrizes tão lindos, que quando fui era ele o primeiro da plateia a rir grande nas horas mais improváveis e poéticas. Hugo Rodas ri da própria beleza – eu, que já rio das próprias bobagens, preciso me lembrar de aprender isso.
Rinoceronte está em cartaz no Teatro Galpão, na 508 Sul, e ainda tem espetáculo no próximo final de semana. Vão, apenas vão. Ouçam a amiga de vocês aqui.
O segundo arrebatamento cardíaco da semana aconteceu ontem à noite, com O amor é rio sem margem, do Seu Estrelo. Desde que eu encarnei que eu queria conhecer aquele lugar, que sempre me atraiu o olho quando desfilava em postagens no Facebook – e como não se deixar atrair por esse universo circense, mambembe, de trupe, de roupa bordada à mão, esse universo encantado de saltimbanco?
Mas eu não esperava tão bonito. O espetáculo de ontem era uma peça de teatro, de circo, de canto, de maracatu e de amor. Tinha um texto tão simples e tão delicado, e tão poético, e que me pareceu tão deles, e eu sou tão chata pra gostar de um texto, que eu fiquei impressionada de gostar tanto.
Os personagens eram belos, realmente. A Morte da peça de ontem é uma personagem com tanta vida que só de lembrar dá vontade de chorar (de novo). O Capitão Sebastião conduziu aquelas oitenta cabeças amontoadas dentro do galpão do Seu Estrelo com uma alma que uma hora eu falei pra Camila: a gente está igualzinho criança. A gente estava. A gente ria, respondia, aplaudia igualzinho criança em circo. Como se faz essa mágica de enjovecer (rejuvenescer me recuso, esse verbo foi roubado pelo capitalismo) a alma da gente desse jeito?
Foi bonito demais. Mas O amor é rio sem margem não está mais em cartaz, desculpa vir despejar essas lindezas aqui meio que tarde demais. Só fica de olho no Seu Estrelo e nunca mais perde nada que eles fizerem.
Prometo que eu também não perco. E a gente se avisa se tiver mais uma peça foda de Brasília rolando, que é pra isso que servem os amigos. Fechou? Então fechou.
Bora?
Rinoceronte, da Agrupação Teatral Amacaca
6 a 8/12, sex e sáb às 20h, dom, às 16h00 e 19h00
Espaço Cultural Renato Russo 508 Sul
Teatro Galpão
Ingressos aqui.
Grupo Seu Estrelo
Com sede no Centro Tradicional de Invenção Cultural
Avenida das Nações 813 Sul.
(PS: o espetáculo ontem era de graça e tinha que chegar cedo, cedo mesmo, senão não entra. Já anota na sua mente pra quando for rolar.)