Com lugar cativo na memória afetiva de todo brasiliense, o Cine Brasília tem uma história irregular. Até pouco tempo atrás, ele era só o local que recebe o Festival de Brasília todos os anos (se é que se pode classificar isso como só). No restante do tempo, um cinema abandonado e obsoleto, de portas fechadas, raras exibições – e nos acostumamos a isso. Como disse: até pouco tempo atrás.
De dois anos pra cá, houve uma revolução ali, e acho que a gente precisa falar dela. Da mesma forma que jogamos luz nas coisas ruins da cidade, é importante aplaudir o que dá certo. A transformação do Cine Brasília é uma das melhores coisas que aconteceram em um setor cultural tão sucateado como o nosso atual.
Para entender o que aconteceu, é preciso ouvir Sérgio Moriconi, professor e crítico de cinema responsável pela programação do Cine Brasília desde 2014. Seu primeiro ano de trabalho, ele conta, foi improvisado. O cinema tinha um equipamento de projeção ultrapassado, que trabalhava com um formato já em extinção no mercado, o que tornou praticamente impossível a projeção de filmes de grande repercussão.
A situação melhorou quando o equipamento foi trocado por outro de última geração, no fim do governo Agnelo. A partir daí, Sérgio passou a negociar filmes com grandes distribuidoras, que, de início, resistiam em liberar filmes para uma sala com fama de inoperante e vazia.
À base de muito convencimento, Moriconi mudou essa percepção das distribuidoras e lembra do “dia da virada”: 4 de janeiro de 2016. Foi quando as distribuidoras voltaram de férias, e ele passou a negociar a estreia do filme nacional Boi Neon, que já estava gerando expectativa e movimentação nas redes sociais e em festivais de cinema.
A distribuidora (Imovision) não quis liberar o filme, ele insistiu e conseguiu. O resultado: quase 5 mil espectadores, uma das maiores médias de público do Boi Neon no Brasil. A gente está falando de sessões com mais de 400 pessoas – três vezes uma sala comum de cinema. “A partir daí, foram abertas as portas das distribuidoras pra gente”, conta Moriconi.
Junto com as portas abertas, veio uma programação consolidada. “Minha filosofia é colocar sempre um filme de mercado, culturalmente relevante; um filme independente; e um filme muito autoral, que você não vai ver em nenhuma outra sala. Privilegiando os filmes nacionais e de Brasília”, diz o programador. “Essa é a função de um cinema público, não é repetir a programação dos outros cinemas.” (E como Brasília precisa de uma seleção baseada na qualidade e não na arrecadação…!)
Ressurgido das cinzas, o Cine Brasília passou a ter uma programação forte toda semana. Um cinema enorme, confortável, com uma tela gigante e um excelente equipamento de projeção, com ótimos filmes todos os dias (só neste ano serão 10 mostras internacionais), e ingresso a R$ 12 a inteira. O que você está fazendo aí, que não incluiu ainda esse programa na sua rotina?
“De tanto tempo que ele ficou fechado, tem gente que mora no Plano e ainda não sabe que o cinema está funcionando e com uma programação de qualidade”, diz Sérgio, com espanto. Pois então, gente, esse textão aqui serve também de letreiro, daqueles bem grandes, com luzes piscando: O CINE BRASÍLIA ESTÁ VIVO, e lindo.
Bora?
Cine Brasília
106/107 Sul
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