Texto – Lara Haje
Especial para o Quadrado
Talvez esteja acontecendo com muita gente o mesmo que comigo. Um movimento contínuo e repetitivo, assim: eu desanimo com tudo e perco a fé na humanidade, especialmente ao ler as notícias e mais ainda ao ler os comentários das pessoas nos sites de notícias, e aí acontece algo, normalmente na vida concreta, fora da internet – uma frase de um dos meus filhos, uma cena na rua, uma iniciativa bonita de alguém – que me faz voltar a ter esperança de que o mundo pode caminhar para melhor. Esse movimento-sentimento vem se repetindo, dia após dia.
Aconteceu, por exemplo, no dia em que eu conheci a Pop Up Store Natural de Brasília. Eu andava de carro pelo início da Asa Norte e pensava como a cidade está piorando em muitos aspectos. O Balaio Café, um espaço de promoção de artistas locais e ponto de encontro de gente descolada, fechou, assim como a Marti Discos, que, além de ter uma oferta de LPs incríveis, fazia uns eventos ao ar livre super aprazíveis, com música boa e gente interessante ocupando o gramado com suas cangas. Além disso, neste dia, como em tantos outros, as ruas estavam cheias, lotadas, de carros (inclusive o meu), e não era nem hora do rush, e continuavam vazias de gente.
“Que cidade careta, que capitalismo selvagem, quantos novos prédios espelhados horrorosos”, pensei. Sim, estes são pensamentos que ainda passam pela cabeça de uma esquerdopata compulsiva, como eu, para plagiar o termo cunhado pelo colunista Gregório Duvivier.
Até que, na mesma tarde à toa, fui parar na Pop Up Store das meninas do Experimente Brasília e do Instituto Brasil de Economia Criativa, que até 9 de julho está sediada no Liberty Mall, antes de partir para outros shoppings da cidade. E, ufa, me lembrei instantaneamente, ao entrar na loja, de que Brasília também anda pra frente, e não só para trás. A loja temporária reúne peças de alguns dos melhores estilistas, designers e artistas da cidade. Tem roupas da Quero Melancia, Helmet e Laletá, por exemplo, peças de prata da Joana VP e jóias orgânicas (de borracha) sensacionais da Flavia Amadeu. Se não conhece estas designers, procure conhecer.
Resumindo: é o paraíso para pessoas como eu, loucas por moda, mas que não querem mais consumir frenética e inconscientemente produtos feitos por mão-de-obra quase escrava em países da Ásia (sim, nós, esquerdopatas compulsivos, pensamos nesse tipo de coisa). Eu quero saber quem faz os produtos que consumo e quero apoiar essas pessoas.
Já sei que todos os meus produtos eletrônicos são feitos da mesma maneira, por trabalhadores que também não têm direitos básicos respeitados, que vou continuar comprando um monte de coisas sem conhecer o processo de produção delas, blablablá. Mas quero mudar no que for possível mudar. OK? Pode ser? Eu, Lara Haje, 38 anos, há cerca de apenas um ano, não sou mais viciada em roupas da Zara e assim caminho, um passinho de cada vez.
Pois então: uma maneira muito fácil de apoiar esta “gente que faz” da cidade é justamente comprando delas. Brasília não vai ter seus designers, estilistas, artistas de todo o tipo, se a gente não fizer a opção consciente, a cada vez que for comprar algo, de escolher um produto local. Para Brasília não ser só funcionalismo público, política, prédios espelhados, carros e também respirar arte e criação – enfim, para ter um pouco de beleza contrapondo-se à dureza – é necessária a colaboração de todos.
Lá no Liberty Mall mesmo, logo atrás da Pop Up Store Natural de Brasília, tem outra loja recheada de estilistas locais, o Coletivo Cria Brasília, e, em frente a ela, a Fulanitas de Tal, com sapatos legitimamente brasilienses. Na Apoena , na 403 Norte, tem roupas de linho e peças bordadas lindíssimas. Se precisar comprar um presente, passe na BSB Memo, na 303 Norte, no Cobogó, na 704 Norte, ou na Fundação Athos Bulcão, na 404 Sul. Estas são apenas algumas das opções – que não faltam, garanto. Pesquise e faça sua pequena, pequeníssima parte.
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