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Ei você, que sai por aí abrindo um buraco nas faixas de propaganda espalhadas pela cidade: sou sua fã desde criancinha. Sempre que encontro uma faixa esburacada – e não é raro – abro um sorriso e me vingo, por tabela, das pessoas que insistem em confundir o espaço público com o quintal das suas casas.
A ideia é ótima. Além de acabar com a festa do anunciante cara-de-pau, o interventor faz questão de deixar a prova do crime (da faixa, não do buraco), imagino que para causar um pouco de constrangimento. Afinal, uma pessoa ou algumas, cujo instrumento de trabalho é uma tesoura, consegue identificar as faixas e agir contra elas mais rápido do que qualquer órgão de fiscalização. Há algo de errado nisso, não?
Admiro essas pessoas, que ajudam a resolver problemas da cidade com provocação criativa. Há pouco tempo, outro anônimo começou a pintar os buracos que se multiplicavam no asfalto. Com um pouco de tinta, a cratera ia parar dentro do “P” de “IPVA”. Ou dentro de um alvo vermelho, pronto pra engolir a flecha – o seu carro, no caso. E então, milagrosamente, o tal buraco, que há semanas incomodava sem ser incomodado, desaparecia em dois tempos.
Esse parece ser um movimento crescente em Brasília. A manifestação de opinião, de crítica e de arte por meio da intervenção urbana. Pequenos manifestos, individuais ou coletivos, vão subvertendo a arquitetura limpa, reta, quase intocável da cidade. E o mais legal, sem prejudicar o patrimônio público, pelo contrário.
Não faz muito tempo, um grupo se reuniu pra dar um trato em uma passagem subterrânea do Eixão, dessas que davam medo só de olhar. No “Sarau da Passagem”, teve faxina, conserto de piso, de iluminação, e música, criança, poesia. Coincidência ou não, essas passagens – há anos em estado deplorável – ganharam um projeto oficial de revitalização.
Outro movimento interessante é o “Que parada é essa?”, que foi tema de um clipe do Móveis Coloniais de Acaju – dá uma olhada ali em cima. Esse grupo escolhe uma parada de ônibus bem detonada e, no estilo lambe-lambe, cobre tudo com gravuras, desenhos, estampas (e cola lavável). É uma mudança sutil na paisagem, mas que diz muito. Pode ser uma reclamação – “olha, quem deveria agir não está agindo” – e pode ser um presente de quem se sente responsável pela cidade e quer dar a ela um pouco mais de beleza.
Dá orgulho de ver… Porque reclamar faz parte, mas fazer mesmo é que é bonito, não é?
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