Publicar um livro é: colocar um pedaço de você no papel. Você ali, na mesa, na prateleira, exposta, acessível, ao alcance de outras pessoas. Outras pessoas que vão interagir com o pedaço de você, vão sonhar junto, imaginar – e transformar aquilo em outra coisa.
Eu, que escrevo para crianças – e crianças são generosas – posso dizer que recebi delas, com este livro, muito mais do que coloquei no papel. Descobri com elas milhares de sentimentos, sonhos, imagens que eu não tinha quando escrevi meu livro. Elas escreveram comigo, ampliaram meu livro – a Rua de Todo Mundo é hoje muito mais do que era há quatro meses, quando ficou pronto.
Quando eu me apaixonei pela ideia de falar de todas as crianças do mundo, meu livro era basicamente sobre multiculturalidade. Sobre o amor às diferenças, a simplicidade da infância, a falta de preconceitos e a falta de barreiras de que são dotadas as pessoas nessa fase linda e complexa da vida. Com as crianças, aprendi que a Rua é também um livro sobre o protagonismo infantil, sobre dar a elas a voz para que se exprimam – e sobre como elas fazem coisas maravilhosas quando têm a oportunidade. Percebi que é também um livro sobre o meu próprio protagonismo – sobre como, a partir da inspiração e da força dos meus amigos do Selo Longe, eu ter me dado o direito de escrever, desenhar e publicar. E sobre como cada um de nós pode e deve fazê-lo.
Eu acreditei muito na ideia que tive quando quis escrever esse livro. Mas acreditar não bastou, não – descobri que se apaixonar por uma ideia e não realizá-la pode ser muito perigoso. Como numa paixão platônica, a ideia é sempre mais bonita enquanto não vira realidade – mas como numa paixão platônica, se isso não mudar ela será irreal pra sempre.
Dezenas de noites de pouco sono, em que fiquei acordada até às três da manhã – para em seguida me levantar às seis e retomar a rotina de todos os dias – foram necessárias para que o texto ficasse como eu queria, os desenhos ganhassem forma e cor, as páginas se organizassem numa sequência que me agradasse.
E ele ficou pronto. Pronto e imperfeito, como são todas as ideias realizadas. Pois foi imperfeito mesmo que ele cresceu e ganhou as casas de centenas de crianças.
Os mil exemplares que imprimi já estão quase no final. E não bastasse o reconhecimento de quem entende de literatura infantil com o coração, A Rua de Todo Mundo foi agora reconhecida também por quem entende por profissão. Minha historinha escolhida para ser lançada na Bienal do Livro e da Leitura – e hoje, no finalzinho de tarde, vou levar o restinho da tiragem para compartilha-la com aquela galera inacreditável que está ali no canteiro central da Esplanada.
Coincidência ou não, são três e meia da manhã e eu estou aqui, na maior insônia do mundo, esperando essa hora chegar. Como se eu e minha ideia ainda tivéssemos trabalho a fazer, estou aqui, lutando mais uma vez com as letrinhas – dessa vez, para convidar você para vir compartilhar esse momento comigo.
Bonita e descansada eu não vou estar, não. Provavelmente nem calma. Mas feliz, com certeza.
Bora?
Lançamento da Rua de Todo Mundo na II Bienal do Livro e da Leitura
Hoje, segunda-feira, 14/04, às 18h
Café Literário, II Bienal do Livro e da Leitura
Canteiro central da Esplanada dos Ministérios, na altura do Museu da República
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