Free Piauí

Em 29 de março de 2014 por Carolina Nogueira

piaui

A gente já vem falando disso há algum tempo: não dá mais pra cidade viver refém do bucolismo mal-acostumado da Brasília que um dia existiu. A cidade cresceu. A cidade está viva – e a gente devia estar achando isso bom.

A cidade quer sair, a cidade quer ouvir música, a cidade quer conversar. E essa lei do silêncio não nos convém. Ela precisa mudar. O argumento mais divertido que ouvi nos últimos tempos a nosso favor é o cálculo dos decibéis das nossas amigas cigarras, no fim do ano. Elas gritam a 80 decibéis. É o que a galera revoltada por terem fechado o Piauí está perguntando: vem cá, cês vão multar as cigarras?

Pra quem não sabe, o barzinho-oficial-das-pessoas-que-fazem-faculdade-não-tem-muita-grana-mas-têm-alegria-de-sobra foi fechado esta semana, adivinhem?, por descumprir a lei do silêncio. Oquei, a casa não tem isolamento acústico – mas vai isolar acusticamente como?, se a graça do Piauí é que a gente fica ao ar livre? Como é que se isola acusticamente o jardim, as árvores, o mundo?

Na boa, e desculpem o trocadilho, essa a gente não vai engolir calado. Hoje à noite vai todo mundo, como de praxe, pro Piauí. Com ou sem Piauí, com ou sem chuva, estaremos lá. Mostrando pra vizinhança e pra cidade inteira que não se pode calar a alegria, não.

Viver faz barulho, beibe. Conforme-se.

Bora?
Isoporzaço no Piauí
Sábado, 29/03, a partir das 19h
CLS 403, Bloco B

ATENÇÃO: Leve suas bebidas (não conte com o bom e velho Piauí…) e, principalmente, leve sacos de lixo. Seja educado com a vizinhança, limpe o que sujar, aja com urbanidade. A vizinhança do bar não é nossa inimiga – a gente quer, ao contrário, que eles achem legal conviver com a gente, que eles vejam com carinho a nossa alegria, que a gente lembre a eles os melhores anos da vida deles. Provocar a galera, fazer barulho de propósito ou deixar sujeira pra trás não ajuda nossa causa – ao contrário, só atrapalha. Nem precisava recomendar, né?

PS: Essa arte maneira é da galera dos Monstros de Brasília, que descobriu todos os monstros escondidos pela cidade que agem por aí às escondidas. Este aí da foto é o monstrinho fecha-boteco que, infelizmente, quem é daqui conhece muito bem.

  • Carol,
    Também gostaria de viver numa cidade mais feliz, mais povoada. Gostaria de ver o povo se divertindo na rua, sentado em mesas nas calçadas, como acontece na maioria das cidades do País.
    Mas, de fato, para quem mora perto de um zumzumzum desses, é complicado! Dormir não é luxo. Além disso, há quem disponha apenas da noite para estudar ou mesmo trabalhar.
    Morei algum tempo no Rio, a cidade que, em tese, é só alegria! A minha rua não era a mais movimentada, ainda assim, algumas noites eu chorava de raiva por não conseguir dormir com tamanho barulho.
    É difícil agradar a gregos e troianos! =/

  • O post poderia ser resumido da seguinte forma: existe a lei do silêncio, ela está sendo descumprida por um estabelecimento, entretanto vem a ser um local que gosto de frequentar logo vou organizar uma turma que se reunirá por suas adjacências e lá ficará bebendo e conversando – mas vou recomendar que as pessoas não transgridam a lei mesmo sabendo que o histórico de aglomerações dessa natureza tende a resultar num ruído que por fim ultrapassará aquilo que a legislação determina (afinal foi por isso que o estabelecimento foi multado, e provisoriamente fechado).
    O ato não faz sentido. Melhor seria convencer o proprietário a se adequar a legislação. Ou tentar mudar a legislação mas entendendo que ela foi criada e aprovada de forma democrática, e da mesma forma que você gostaria que as modificações por você propostas – caso sejam aprovadas – fossem respeitadas e cumpridas também deverias ter o mesmo comportamento com aquela que agora vigora (fruto de pessoas que discordam de você). E, por fim, entender que passar por um processo onde suas sugestões e propostas porventura sejam rejeitadas não significa que tens então o direito de burlar a lei apenas porque ela não atende seus desejos.
    It´s called being an adult.

    • Isadora Cysne

      Concordo muito!! Temos essa cultura de ignorar as leis ou tentar mudá-las em benefício próprio.

  • Camila

    Ufa, achei que só eu pensava que o silêncio deve sim ser respeitado. Adoro o blog de vocês, mas não concordo com esse ponto de vista. Eu moro em uma rua que tem um bar com espetinho (delicioso por sinal), mas que já me fez chorar de cansaço por não conseguir dormir! Não acho coisa de velha querer silêncio. Tenho 24 anos. Trabalho, estudo e adoro bar, mas também gosto de ser respeitada e exigir silêncio na minha casa. Lógico que a “culpa” não é do Piauí, e nem tenho uma “solução” para isso, mas não acho errado quem mora naquela quadra reclamar do barulho. Eu vou continuar reclamando quando não conseguir dormir (principalmente em dias de semana) por causa do barulho ALTO de outras pessoas. Enfim, beijos!

  • carolnogueira76

    Sabe, amigos leitores, a questão da revisão da lei do silêncio e a questão do Piauí especificamente são assuntos polêmicos.
    Eu mesma tive muitas dúvidas antes de escrever este texto aí de cima – especialmente porque, multados uma primeira vez, o bar aparentemente não fez nada pra se adaptar.
    Das vezes que fui lá, no entanto, nunca havia música, festa, nada disso – o barulho era simplesmente o barulho de pessoas conversando. E eu estou com os meninos que fizeram o evento: acho um exagero fechar um bar por causa do barulho de pessoas conversando.
    Mas respeito muito a opinião contrária de todos vocês, que se exprimiram com educação sobre um tema polêmico. É a beleza do debate, não?, exprimirmos pontos de vista divergentes com respeito ao outro. Brigada pela visita.
    Carol

    • Carol, parabéns pelo Blog e pela abertura do teu espaço e tempo para este tipo de discussão. Meu comentário, logo acima do seu, certamente não foi dos mais educados, mas pode acreditar que tento sempre fazer o melhor possível para manter um nível civilizado, seja numa conversa, seja num texto. Acontece que este tema e certos comportamentos tipicamente brasileiros me causam tremenda indignação.
      Eu não tenho nada contra bares, restaurantes, depósitos de bebidas, ou qualquer outro negócio, desde que eles cumpram a lei e não se coloquem acima dela. Estendo este mesmo raciocínio para festas, eventos, manobristas, motoristas particulares etc.
      Lutar pelo bem da cidade e apoiar um estabelecimento que invade área pública e não respeita as leis (aparentemente por anos a fio), me parece tão incoerente quanto eleger maus políticos e esperar que estes trabalhem por nós.
      Será que nesse grupinho aí não tem ninguém afim de lutar por causas mais nobres e relevantes, ou no fim das contas isso é só mais um motivo para beber cerveja e que tudo mais pro inferno?

  • Atitude típica de quem se julga com mais direitos que os outros. Bem conveniente que tenha sido agendada no mesmo dia que o golpe de 64 completa 50 anos. Aproveitem e brindem aos milicos!
    Por que será que é tão difícil para certas as pessoas (que são muitas) se colocarem no lugar de quem mora ali ao lado?
    O Depósito de bebidas não paga para usar aquele espaço, não tem direito sobre ele, não cumpre a lei e ainda por cima causa todo esse transtorno, será que no Brasil tudo que é legal precisa ser ilegal?

  • Luiz Cláudio Canuto

    A doce agrura de não morar no bloco O da 403 sul. A doce obtusidade de pressupor que os abaixo-assinados são pessoas insensíveis, que não sabem viver numa sociedade livre, oras. Tipo os cubanos reclamões, ou aqueles chatos venezuelanos que chiam demais! De um lugar confortável a gente enxerga tudo muuuuuuuuito melhor, é o que sempre digo. Eita, cadê o caviar que estava aqui?? Porra, Zuleide!!!

    Ah, a propósito: o texto contém um erro imenso: o Piauí não é um BAR. É um DEPÓSITO DE BEBIDA! Mas como a galera ia lá, comprava uma birra e acabava ficando por ali, o dono resolveu botar umas mesas e a coisa pegou. Isso faz mais de dez anos. O depósito existe desde o início dos anos 80 COMO DEPÓSITO e aparentemente nada impediria que continuasse a funcionar como depósito, que é o que é. Morei no bloco P, paralelo ao O, por 20 anos. Felizmente não peguei essa “crise de identidade” do depósito. O GDF demorou a atuar.

  • valberto

    Questiono se não seria levar essas pessoas para um lugar mais distante e que não incomoda ninguém, como a praça dos três poderes, por exemplo.

  • Concordo com o Ricardo. E quem trabalha em casa? E quem estuda? Fica como? Por que a alegria (sempre bem-vinda) de uns deveria ter o direito de invadir o sossego de outros? Por que os bares se instalam, crescem e aparecem em zonas residenciais sem o menor pudor e sem qualquer preocupação com isolamento acústico? Morei perto do Piauí por anos, era um ponto de encontro bacana, mas não era o circo que é hoje.

    A culpa não é só do Piauí, claro, mas o problema é de todos, é sério, e não dá pra simplesmente gritar “se vira aí” pra quem só está pedindo um pouco de educação.

  • Ricardo

    Pas d’accord. Eu também queria uma cidade mais alegre, animada e colorida, mas considero que o interior do lar não se invade nem com barulho. Até porque o silêncio nem sempre é só um luxo, frescura de coxinha ou mania de velho. Pode também uma necessidade, não é tão simples quanto “os incomodados que se mudem”. Com certeza a lei do silêncio atual é impraticável, mas penso que além dela é preciso resolver outros fatores, quem sabe aproveitando/mudando o zoneamento na nossa cidade. Acho que em qualquer cidade é normal vc ter áreas exclusivamente residenciais, como deveriam ser as superquadras, correto? O nossos setores de diversões – centrais, acessíveis, gregários e que podiam (deveriam) ser a nossa Lapa – hoje não divertem ninguém, são tristes de dia e mortos à noite. O setor comercial, idem. Enfim, digo isso só para perguntar se não teríamos outras soluções que não causassem tanto conflito entre os interesses de quem sai à noite e os moradores? De resto, Brasília nasceu para ser Washington e não Barcelona. Temos que nos conformar com isso também.

    • pra quem morou em Washington (eu) digo: Bsb nada tem de DC, e a vida noturna lá é agitada, por incrível q pareça (principalmente se vc não conhecer a cidade como um turista típico conhece), com opções de pubs, boates e afins todos os dias da semana (pra quem curte jazz, blues e rock então… paraíso sem um monte de turista como New Orleans). Só comparo as duas no traçado e em ser capital administrativa, fora isso…