Feliz olhar novo

Em 07 de janeiro de 2014 por Carolina Nogueira

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Na relação nova que estabeleci com Brasília quando voltei para cá, há dois anos, meu maior desejo era que o olhar novo com que eu observava a minha cidade não se perdesse nunca. Cheguei com a sensação de estar vendo o que os outros não viam, querendo reinventar hábitos, questionar rotinas, viver a cidade de um jeito novo – voltar para casa foi tão intenso quanto sair daqui.

Criar este blog junto com a Dani foi uma consequência do jeito que escolhi viver – este espaço é quase que a materialização do desejo de repensar e olhar a cidade de um jeito diferente. Mas ontem, pela primeira vez desde a volta, senti minha missão ameaçada.

Caí no lindo texto publicado pelo fotógrafo Orlando Brito – pioneiro da cidade e um dos fotojornalistas mais respeitados da capital – em que ele conta da tristeza que sentiu ao levar um amigo estrangeiro para conhecer e fotografar Brasília. Ele conta como, de repente, ele se deu conta do abandono a que cidade está relegada. É um texto duro e sincero, aliado a fotos que falam sozinhas: cones, cercas, banheiros químicos, estruturas de edifícios completamente comprometidas. Ontem à noite ele me contou que o monte de lixo que ele fotografou no domingo continuava lá ao cair da tarde da segunda.

Fiquei triste como todo mundo que leu o texto do Orlando – mas, no meu caso, fiquei também profundamente incomodada de perceber que eu precisei ler aquilo tudo para me dar conta. Meu olhar envelheceu.

Eu passo ali todos os dias – eu enxerguei a cerca tombada no caminho para o trabalho, eu vi os banheiros químicos, todo mundo enxerga esse arremedo de ciclofaixa que entope a cidade de cones, sem resolver nada nem para carros nem para bikes. Mas meu olhar simplesmente se acostumou a tudo isso – como eu temia, voltei a enxergar sem ver. Alerta vermelho.

Um beijo no Orlando por esse presente de Ano Novo: despertar meu olhar novo de novo. Que a rotina não venha embaçar nem as lindezas nem as mazelas da nossa cidade.

  • Sou de BH, mineira de nascimento, mas brasiliense de coração, desde 1961, qdo aqui cheguei, recém casada, cheia de sonhos e esperanças. Amo esta cidade. Adotei-a de coração. Reconstruí a minha vida e formei minha família. Sinto tb a tristeza de vê-la relegada a segundo plano, diante das mazelas de que é vítima. Nem é preciso falar aqui do descaso para com a saúde, a educação, o transporte e a segurança, assuntos por demais discutidos e não solucionados. Sinto tristeza de ver, entre outras coisas, as construções inacabadas, (vide a Veja – Brasília, de 08/01/2013), pontes apresentando sérios defeitos, jardins mal cuidados, lixo não recolhido, puxadinhos horizontais e verticais que enfeiam a cidade, prédios já enegrecidos pelo tempo… E tudo isso em pouco mais de 50 anos. A autora tem razão de sentir-se com outro olhar, infelizmente. Uma pena!!!
    Obs: Gosto de ler os textos do blog QUADRADO!