Estava eu de férias, andando em uma rua qualquer do Rio de Janeiro, quando escuto alguém xingando Brasília. A voz veio de um bar em Ipanema, mas não foi dita necessariamente por um carioca, pode ter vindo inclusive de um brasiliense – o que não seria incomum, seria?
Andei alguns quarteirões até me livrar da vontade de voltar naquele bar e responder o xingamento. Óbvio que não voltei, mas depois fiquei me questionando por que fico tão incomodada quando alguém critica Brasília, seja qual for o tema da crítica. É um incômodo que às vezes supera o razoável. Problema de quem não gosta, o que eu tenho a ver com isso, me diz?
Freud deve explicar melhor do que eu, mas tenho a impressão de que o brasiliense, de poucos anos pra cá, está mais aguerrido na defesa da cidade. Estufa o peito com vontade e não leva desaforo pra casa. Talvez a gente esteja passando por um movimento de autoafirmação, típico de qualquer grupo social que levou pedrada a vida inteira e, de repente, parte pra reação.
Em algum momento, essa reação assume um tom desproporcional à crítica, o que pra mim é resultado de algo que enlouquece qualquer um mesmo: crescer ouvindo as mesmas críticas generalistas – e injustas, na maior parte – de quem assume a reclamação como esporte e o preconceito como verdade.
Tem o preconceito de quem nunca pisou aqui (ou pisou só num gabinete e voltou pro aeroporto) e costuma ter muita opinião sobre o que não conhece. Faz isso repetindo bordões, frases feitas e piadas prontas que escuta desde a infância. E só consegue enaltecer sua cidade preferida depreciando outra.
Tem também o preconceito do morador de Brasília, brasiliense ou não, diagnosticado com vício em reclamação. Aquele que perpetua as frases feitas em uma eterna insatisfação com a cidade. O irônico é que essa pessoa normalmente tem algum motivo muito bom pra morar aqui. Mas esse motivo, apesar de ser tão bom a ponto de mantê-la na cidade, não consegue ser foco de atenção. O foco são sempre os defeitos.
Sobre o preconceito de quem não conhece a cidade, nem pretende, recomendo a leitura de um texto da Carol no blog Desenho de Vida Real, sobre uma matéria da revista Mundo Estranho com o título “E se Brasília não tivesse sido construída?”. É só uma amostra de como a nossa cidade costuma ser culpada pelos crimes mais bizarros – o mais clássico é o de abrigar os políticos que, vejam só, foram escolhidos pelo país inteiro.
E sobre os que moram aqui e não param de reclamar… Só queria dizer que não sou a Pollyanna, não vivo rodopiando pelo Eixão feliz da vida. Reclamar faz parte, é claro, o problema é o vício na reclamação. A insatisfação permanente é infeliz, mas extremamente cômoda.
Brasília tem muitas qualidades e muitos defeitos, como todas as cidades que eu conheço. A única diferença são as prioridades de quem vê a cidade. Dentro do que é mais importante na sua vida, neste momento, uma ou outra cidade vai te atender melhor, vai te satisfazer mais. Os defeitos de Brasília certamente são diferentes dos defeitos do Rio, de Porto Alegre, de Recife, mas todos têm os seus. O que você prioriza?
Como todo tipo de relacionamento, o nosso com a cidade também cai na rotina, também vira um tédio. Às vezes é bom dar um tempo e se afastar pra enxergar melhor. Se o problema está no seu olhar, que você consiga mudar sua forma de ver a cidade. Se o problema está nas suas prioridades, e se Brasília não atende a elas, que você consiga se mexer e procure alternativas. A culpa não é da cidade, é do que você faz com ela.
Desculpem a rabugice, acho que bateu uma depressão pós-férias. Mas sempre que viajo percebo como é bom sair e como é bom voltar pra casa. E penso que, na hora em que não for bom voltar, vai ser mais corajoso agir do que reclamar.
Foto: Coletivo Transverso.
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