“Você é menino ou menina?” – um dia uma criança perguntou para a barbeira Vivian Bitencourt, durante um corte de cabelo. “Que diferença faz?”, ela respondeu.

Pois é, para algumas pessoas faz diferença, acredita? A única barbeira que já conheci ainda ouve de alguns senhores que não cortam cabelo ou fazem a barba com mulher. Outros sentam na cadeira desconfiados e se surpreendem.

Mas, conforme Vivian, casos assim são cada vez mais raros e, após dois anos de profissão, ela já tem uma carteira de clientes fiéis, que preferem fazer a barba ou cortar o cabelo com ela. Foi o caso do meu amigo Marcus, que me contou da Vivian: sempre rodeado por mulheres – mãe, irmãs, amigas – se sentiu mais à vontade com uma cuidando da sua barba também.

Vivian teme, porém, que o preconceito recrudesça daqui para frente – numa era em que possivelmente será legitimado pelo Estado. Nem tanto, segundo ela, por ser mulher, mas “por não ter aparência tão feminina”.

Mas, acostumada com ambientes predominantemente masculinos, Vivian não se abala por olhares tortos. Além de barbeira, ela é técnica em mecânica e já trabalhou com manutenção de máquinas pesadas na empresa Super Via, concessionária de trens no Rio de Janeiro, e no metrô de Brasília.

Foi assim que a carioca de 26 anos veio parar na cidade em 2015: para trabalhar no nosso incipiente metrô. Já em Brasília, um dia ouviu o caso de uma garota que não conseguiu ter o seu cabelo cortado numa barbearia – simplesmente por ser mulher (sim, essas coisas acontecem em pleno século 21).

Daí nasceu a ideia de virar barbeira. Após fazer curso de barbearia no Instituto Helio, no Setor Comercial Sul, ela trabalhou por seis meses numa barbearia no Riacho Fundo I e atende há cerca de um ano no Mr. John – Barber Club, na 204 sul, e também em domicílio.

Vivian conta que algumas clientes mulheres preferem ser atendidas em casa do que ir à barbearia – seja por ficarem constrangidas em ir a um espaço originalmente reservado aos homens, seja pelo preço mais em conta. Para quem tem o cabelo curtinho e gosta de cortar com máquina, sugiro uma olhadinha no Instagram @vivian_barber.

Pensando em outras meninas que, como ela, também gostassem de ser barbeiras – e nem vislumbrem isso como possibilidade -, Vivian quer colocar em prática um projeto de capacitação de meninas interessadas no ofício, em São Sebastião. Quem sabe, em breve, fique mais comum encontrar outras barbeiras no Distrito Federal. Você conhece alguma?