E o jambu treme

Em 27 de julho de 2018 por Lara Haje

Quando a presidenta Dilma Rousseff saudou a mandioca, lá em meados de 2015, e disse que era uma das maiores conquistas do Brasil, eu concordei inteiramente com ela. Com certeza é uma das maiores estrelas da culinária brasileira.

A estrela atua de forma sensacional no risoto de pato com tucupi do restaurante de inspiração paraense Jamburanas, que fica no espaço gastronômico Quituart, no Lago Norte. Tucupi, para quem não sabe, é um caldo amarelo extraído da raiz da mandioca brava.

E o risoto do Jamburanas, para quem ainda não teve o prazer de provar, é uma releitura do clássico prato da comida paraense pato com tucupi. Ele vem acompanhado de pesto de jambu, aquela folha típica do Pará famosa pela sensação anestésica que dá na boca e, se você comer o bastante, pelo formigamento dos lábios.

Peça com o drink mojito de jambu, e aí, sim, o jambu treme, treme, treme, como diria a cantora paraense Dona Onete na música que dá nome ao restaurante.

Mas, antes de drinks e prato principal, as entradas do Jamburanas são uma atração à parte. Pastel de vatapá de palmito, pastel de pato com jambu, dadinho de tapioca (olha aí a mandioca estrelando de novo) são algumas das delícias que provei por lá. E se você tem preconceito com quiabo vai perdê-lo todinho por lá se pedir a versão tostada com alho e óleo – o novo petisco vegano do restaurante.

Aliás, frequentar o Jamburanas pode ser uma boa oportunidade de perder outros preconceitos também. As donas são Mariana Miranda e Pat Egito – casal que está conseguindo conquistar pelo estômago a família tradicional lagonortina que costuma frequentar o espaço gastronômico. Mari relata certo estranhamento da comunidade-Quituart com toda a proposta do Jamburanas no começo de tudo, há quatro anos, mas conta que hoje a casa conta com um público fiel que come lá todo fim de semana.

Preconceito é tudo que não rola no lugar, que acolhe igualmente seus clientes carnívoros, vegetarianos e veganos. Para praticamente todos os pratos principais, há uma versão para quem não come carnes e/ou outros produtos de origem animal. Por exemplo, no caso do prato tilápia com banana da terra, pode-se optar pelo cogumelo shimeji grelhado no lugar do peixe. Há vatapá paraense com camarão seco, mas tem também uma versão vegana. Encontrei umas amigas legitimamente paraenses aprovando as duas versões por lá.

Além da clara inspiração nortista, o Jamburanas flerta também com a culinária nordestina, oferecendo, por exemplo, moqueca de pescada amarela e bobó de camarão – que podem virar moqueca de cogumelos e legumes e bobó de grão de bico, ao gosto do freguês.

Se você ficou com água na boca, mas tem filho, mãe, pai ou qualquer outro acompanhante de almoços de fins de semana que não vai topar provar nada disso, não faltam outras opções ótimas na Quituart. Em uma mesa democrática de almoço de que participei outro dia, tinha das iguarias veganas do Jamburanas ao maravilhoso beef bourguignon (carne cozida no vinho tinto) do bistrô francês O Realejo, passando pela porquetta (um rocambole de carne suína inacreditavelmente apetitoso) do Le Birosque. E ainda crianças engolindo um tradicional bife com arroz e batata frita rapidamente, antes de se jogar no pula-pula que é instalado lá aos domingos.

Agora a notícia ruim: a Quituart só abre de quinta-feira (à noite) a domingo, sendo que alguns restaurantes só abrem para o almoço.

Por isso, os outros talentos das sócias do Jamburanas não são aproveitados em eventos que poderiam estar acontecendo por lá no restante da semana. É que a Pat é DJ, além de chef de cozinha desde os 19 anos, quando inaugurou a carreira vendendo yakissoba no trailer Dikessoba (entendedores entenderão), que estacionava na porta do UniCeub. Aprendiz desde sempre de sua mãe, a cozinheira de mão cheia Socorro, que também trabalha no restaurante, Pat depois fez cursos superior e técnico de gastronomia.

Já Mariana ou Mari Mira é VJ, e vez por outra é encontrada projetando lindezas em eventos da cidade, além de produtora cultural – por exemplo, dos blocos carnavalesco LGBTQ Essa boquinha eu já beijei e Tuthankasmona, que reuniram milhares de pessoas na Funarte no último Carnaval. Ela também trabalha atualmente no Cine Cleo, que exibe produções cinematográficas de mulheres no Teatro Dulcina duas quintas-feiras por mês.

Para quem acha que esses talentos + a comida do Jamburanas num lugar só iria ser tudo de bom, Mari dá uma esperança e conta da vontade de expandir os negócios, para abarcar todas as frentes. A gente fica torcendo.

[Nota da Dani, que está publicando este post: foi no Jamburana que comi uma das melhores patinhas de caranguejo da vida. E, ao contrário da Lara, não tenho alergia a camarão, então posso dizer que o bobó dessas duas é ma-ra-vi-lho-so. Com chips de batata doce incrivelmente crocante. Era só isso mesmo, tchau.]

               

Bora?

Jamburanas
Quituart – QI 9/10 do Lago Norte
Quinta e sexta – 19h às 23h
Sábado e domingo – 12h às 16h
Tel – 99633-4441
Página no face – aqui