Todo fim de semana, a mesma coisa: vontade de almoçar uma comidinha caseira boa, simples e honesta, mas onde? Só conseguia lembrar de restaurante caro demais, ou fresco demais, ou temático demais. Tudo o que eu queria era um arroz com feijão e bife, mas em um Plano Piloto engolido pelo raio gourmetizador isso é pedir demais. Ou melhor, era. Até descobrir, com mais de 20 anos de atraso, o Silvio’s Bar.

Também conhecido como Bar do Silvio, o lugar é meio boteco pé sujo, meio restaurante, e fica escondido numa esquina da 114 Norte há mais de duas décadas. Como assim eu nunca tinha ido lá antes? Alguém por favor me explique.

Silvio, um cearense de Boa Viagem muito simpático, é quem chega na mesa pra explicar o serviço: você come à vontade por R$ 45. No self-service, feijão preto e carioca, arroz, macarrão, batata palha, farofa de torresmo, maionese de batata. De carne, você escolhe entre as opções do dia, que vão de picanha a contrafilé, passando por sarapatel, rabada, lombo e frango.

E pra começar tudo, a melhor invenção do Silvo: pizza de salada. As folhas de alface, que ele mesmo planta em casa, em Sobradinho, são empilhadas e temperadas com tomate e cebola. Crocante e delícia. Dá vontade de ficar só na salada, mas não é possível. Logo a gente pede uma porção à parte de batata frita, uma das especialidades da casa, e a emoção bate: pela primeira vez, uma batata frita à altura da feita na casa da minha mãe.

O sangue nordestino é evidente nos modos do Silvio, que demonstra seu afeto nos entupindo de comida exageradamente. Antes de vir a porção de batata (enorme), ele nos manda um prato com um pouco de batata frita pra acompanhar a primeira cerveja do almoço. Antes de chegar a porção oficial de rabada (gigantesca), ele manda um prato com pedaços generosos de rabada misturados com arroz. Todo mundo achou que já era o prato principal, mas não, era só um afago.

O bife de contrafilé é tão grande que pedimos dois para três pessoas e sobrou. No final de tudo, ele ainda deu uma embalagem pra gente se servir à vontade no self-service e levar pro jantar. “Pra depois do Fantástico”, disse o Silvio, servindo uma dose de uísque como se fosse cachaça, pra gente experimentar. Como não amar? Tudo farto e bem temperado. Nada de frescura, só o que importa. E, pra fechar, um café com rapadura – mas não um pedacinho, uma vasilha inteira. Estou na casa da minha mãe, definitivamente.