Sete Terras

Em 12 de março de 2017 por Daniel Cariello

Acharam sete novas Terras em um pequeno sistema solar vizinho, dois dias antes do carnaval, fatalidade cronológica das mais graves porque o brilho das purpurinas acabou ofuscando o da estrela anã que aquece os planetas recém-descobertos.

A notícia passou meio que batida (de coco) para alguns, mas me pegou em cheio, tanto que saí para observar a noite já montada, com todas suas constelações, galáxias, nebulosas, todo o infinito, e fiquei pensando onde no céu estarão esses mundos tão parecidos, ao que tudo indica, com o nosso?

Será que algum deles tem lago, peixes, montanhas, árvores, céu, nuvens, cachorros, pipoca, cinema, roda gigante, camas sujas, louça acumulada, batom, feijão, música, será que tem música?, música e pessoas para preencherem o cenário, será que tem?

Talvez em um outro haja muita neve, incontáveis tonalidades de branco que atapetam montanhas cujos cumes se confundem com o recorte do céu quando coberto, dando a impressão de serem uma coisa só, e se derramam em paisagens abandonadas, no meio das quais talvez possamos identificar as luzes amareladas de um pequeno vilarejo onde vivem todos os habitantes do planeta, talvez o vilarejo exista.

Para alcançar esses corpos celestes, é preciso navegar o cosmos por trinta e nove anos ininterruptos, à velocidade da luz, pelo grande vazio do universo, em uma nave a qual ainda não somos capazes de construir, só de sonhar, de maneira que é melhor tomar o atalho dos buracos de minhoca da imaginação e fazer a travessia de forma instantânea.

Na minha cabeça, os astrofísicos dos sete mundos estão anunciando neste momento, em uma entrevista coletiva e com transmissão para a Via Láctea, a descoberta de um planeta habitável em um sistema solar próximo ao deles, na periferia da galáxia, enquanto um espectador se pergunta se nesse simpático globo há grama, pizza, violão, formiga, livro, prédio, bola, contas a pagar, boteco, poesia, será que existe poesia naquele pálido ponto azul?, ele se pergunta.