Volta, Balaio!

Em 11 de junho de 2014 por Carolina Nogueira

balaio

O Balaio Café não é só um café. É um ponto de encontro. É uma filosofia de vida.

É um lugar onde nós – que somos cultura, movimento negro, homossexuais, nós, que somos heterossexuais, que somos trans, que somos tudo, nós, que somos igualdade, que somos noite, que somos dia, que somos café, cerveja e pinga, nós, que somos família, que somos periguetes, que somos samba, que somos modernos, que somos rock, nós que somos paixão, que somos paquera, que somos casamentos longos e duradouros, nós, que somos alegria – nos encontramos diariamente.

Cada dia, um show, um lançamento de livro, uma sessão de cinema. Cada dia, um motivo para sair de casa, encontrar gente, celebrar a vida.

Nós somos o Balaio. O Balaio que foi fechado ontem sob o mesmo argumento de sempre: descumprir a Lei do Silêncio. A Lei do Silêncio que nos impõe um limite de produção sonora restrito aos 55 decibéis que são produzidos, sozinhos, pelos carros que passam na rua em frente ao Balaio. Essa lei não nos convém, já falamos disso. Essa lei serve de desculpa para os que não querem a cidade viva – e, quem sabe, para aqueles a quem a nossa diversidade incomoda um bocado.

O Balaio assinou hoje um termo de ajuste de conduta e deve reabrir as portas em breve. Enquanto isso, é hora de voltar a discutir a mudança na lei. E assinar aqui, em apoio ao Balaio – que somos todos nós.

  • marcelolemos

    A pior coisa do Balaio não o barulho, é o atendimento. É isso que me mantém bem distante deste estabelecimento.

  • Rpegis Torres

    Eu acho engraçado que essa lei e seus adoradores só se referem a “barulho” como sendo a música advinda da diversão de quem tem o direito de descansar de forma diferente dos adoradores do silêncio. Diversão e socialização também são descanso, sabiam? Quero saber dos outros barulhos. Como sou músico, trabalho á noite. E tenho que aceitar, no horário do MEU descanso, o barulho provocado por quem estava dormindo á noite. A obra ao lado da minha janela, a buzina e o barulho do ônibus na rua em frente, o latido do cachorro da madame no apartamento ao lado, o som do carro que faz propaganda de fruta, açougue ou de qualquer outra porcaria nunca são fiscalizados ou multados. Não se exige isolamento acústico para esses ruídos, que incomodam bem mais do que uma boa música. Os intolerantes são assim. Têm o umbigo do tamanho das suas barrigas. Querem saber de si, o resto que se dane! Aliás, existe isolamento acústico para residências também, viram senhoritas? Papo reto: quer silêncio? Vá morar numa fazenda. Viver faz barulho!

    • tenho que usar protetores auriculares para conseguir dormir… adivinha o motivo? Os gênios da minha quadra fizeram uma quadra de futebol atrás do meu prédio – e as crianças gritam tão, mais tão, mas tão alto que me atrapalham dormir, estudar, assistir tv…
      (preferia barulho de gente feliz conversando no bar)

      mas assim… indico protetores auriculares pra todo mundo que vive em áreas centrais de qualquer cidade e tem barulhos que atrapalham a vida por perto (e ó, custam menos de R$ 3 na farmácia da minha quadra e salvam a vida!). Em vez de encher o saco alheio e fazer escândalo, comprem protetores auriculares! (aliás… que tal uma campanha que os distribuísse aos chatos de plantão?)

  • marieta

    Agora ninguém tem direito de reclamar de barulho sem ser rotulado de mal amado, nazista, fascista e por aí vai…Basta colocar isolamento acústico! Ficam felizes todos, o dono do bar que continua aberto, a população vai curtir a música e a vizinhança que tem silêncio para dormir.
    Infelizmente moro perto do Piauí (não sou de BSB e não sabia do tipo de gente que frequenta o ambiente e nem que distribuidora é bar!). O bar foi fechado e seria reaberto após o pagamento de multa e instalação de isolamento acústico. Fizeram um “isoporzaço” que deixou a quadra toda imunda cheirando xixi. Reabriram após pouco tempo sem o isolamento, apenas com redução no número de mesas. Não adiantou nada! O barulho continua, as pessoas continuam sem educação fazendo xixi (quando não outra coisa) na quadra e deixando lixo por todo canto.

  • Agora, quem quer descansar, dormir e estudar na própria residência é perverso, nazista, facista. Democrático é fazer barulho em área residencial até altas horas, né?
    Está tudo errado nesse país, a começar pelo senso de educação dos seus habitantes.

  • Mariana

    Adoro ir pra um barzinho, ouvir música, conversar até tarde. Mas também amo chegar na minha casa e poder descansar em paz, em silêncio, para enfrentar o trabalho no dia seguinte. Acho o isolamento acústico uma bela invenção. Por que não usar? Agora, acho válido o questionamento acerca dos abusos na aplicação da lei. De qualquer lei.

  • Rpegis Torres

    A Lei do Silêncio é perversa. Quem a aplica é perverso. Quem a fiscaliza é perverso. Não há chance de defesa por parte de quem é autuado. Temos exemplos perversos de abuso de uma autoridade igualmente perversa. Os fiscais são simples mandados, desprovidos de qualquer bom senso. O Café Senhoritas, que tocava somente jazz, foi sumariamente fechado. O perverso morador responsável pela denúncia simplesmente disse que não gostava de música, e queria dormir. A medição dos decibéis é perversa. Nunca foi feita corretamente, como manda a perversa lei. Há uma aberta perseguição dos infelizes intolerantes contra quem gosta da felicidade de sair de casa e aproveitar a noite. O Villa Tevere, que tinha música há 15 anos e nunca, jamais teve qualquer tipo de problemas com ela, foi interditado há algumas semanas por causa da reclamação de uma única moradora infeliz que se mudou recentemente para o bloco que fica há 100 metros de distância. Essa louca descia de camisola para fazer escândalo na frente do restaurante, dizendo que queria assistir novela e depois dormir. Eu mesmo medi o ruído embaixo do prédio dela. 45 decibéis, com picos de 55, quando o decibelímetro era apontado para o eixinho, não para o restaurante. Isso não é correto. Não há diálogo. Apenas a repressão perversa a quem gosta de vida. Viver faz barulho. Uma cidade faz barulho. Quase todos eles, diurnos e noturnos, bem acima de 55 Db. É a ÚNICA cidade do país em que essa perversidade é levada a cabo. Lamentável. A classe artística, e quem gosta de usá-la, estão sendo massacrados. De 5 anos para cá, 95 casas de cultura em Brasília foram interditadas. Perverso.

    • Mariana

      Aí a culpa não é da lei, é dos aplicadores despreparados que nós temos. De qualquer maneira, os moradores tem sim o direito de descansar em silêncio em suas casas. A maioria das pessoas hoje em dia tem uma vida estressante, pega trânsito, barulhos o dia todo, compromissos. As vezes tudo o que se quer é um pouquinho de paz em sua própria casa. E não é questão de optar então por viver em um sítio, mas sim de respeito mútuo.

  • Gabriela Tunes

    No final dos anos 30, em Salvador, foi editado um decreto que visava garantir a ordem pública e o sossego, sob a alegação que as algazarras, os batuques, as festas, estavam impedindo o sono dos trabalhadores. O que resultou efetivamente do decreto foi o fim de uma tradicional roda de samba da cidade, fora o fechamento (com apreensão de instrumentos musicais) de dezenas de terreiros de candomblé e umbanda. Ou seja, um decreto fascista e que serviu ao preconceito. A Lei do Silêncio de hoje é a mesma coisa, só que usa argumentos técnicos sofisticados (os decibéis e as normas da ABNT) para destilar os mesmos velhos preconceitos. Em tempo, vejam que nenhuma outra fonte emissora de ruídos (como trânsito, obras, aeroporto) jamais foi punida pela lei do silêncio. Ela só fecha os bares, e só os botecos, e só aqueles que incomodam por outros motivos além do suposto ruídos. Mais uma vez, a Ju está prestando um serviço para a sociedade quando questiona uma lei injusta. É preciso fazer isso, ainda que a maioria da população ache a lei boa. Nunca é demais lembrar que a maioria da população alemã apoiou o Hitler. Ou seja, unanimidade não quer dizer justiça. O critério do bem é outro. E viva o Quadrado Brasília, que põe a cara a tapa defendendo aquilo em que vocês acreditam.

    • Mariana

      Nooossa! Pegou pesado. Não nada a ver com fascismo ou Hitler kkkk.
      tem a ver com o fato de as pessoas morarem em áreas residenciais e terem o direito de dormir, para acordar cedo no dia seguinte e trabalhar para fazer esse País caminhar.
      Infelizmente, não existe a cigarra sem a formiga nem a formiga sem a cigarra! A cultura é importante, mas infelizmente o barulho não pode se sobrepor ao bem estar das pessoas! Antes fosse uma mera lei ambiental! É muito mais que isso!
      Existem lugares em que a música pode entrar madrugada a dentro, mas se o barzinho ou casa de shows está instalado nas entrequadras, tem que dançar conforme a música! tudo na vida tem prós e contras. Estar bem centralizado, perto dos clientes, é um pró. Estar num lugar em que estacionar é difícil e que tem que abaixar o volume cedo são contras! E a vida é assim. Vivemos em comunidade!
      Lá perto do Mangai tem espaço de sobra pra fazer barulho, sem vizinhança! Bora pra lá?

  • Gabriela Tunes

    Eu tendo a acreditar que a Lei do Silêncio é inconstitucional. Em BH, a procuradoria já impetrou ação direta de inconstitucionalidade para uma lei que torna mais rígidos os limites de decibéis. Uma lei que protege o meio ambiente não pode impedir o trabalho das pessoas. E o trabalho dos músicos necessariamente emite som, e, na quase totalidade dos casos, acima dos limites da lei. Por isso, dizemos sim que a lei é fascista. Porque ela está servindo a um projeto de higienização da cidade, eliminando do Plano Piloto, principalmente, aqueles bares indesejados, frequentados pela gente suja, pelos boêmios, gays, músicos, e outros que não combinam com o ambiente shopping-center que estão querendo botar em toda a Brasília. A jul não é arrogante, ela é guerreira e tem coragem de mostrar a hipocrisia da sociedade.

    • “eliminando do Plano Piloto, principalmente, aqueles bares indesejados, frequentados pela gente suja, pelos boêmios, gays, músicos, e outros que não combinam”…

      pois é. Engraçado que há vários locais no Plano que vivem cheios, geram barulho, geram “bêbados fazendo merda”… e continuam sempre abertos. Pq só uns são fechados, e outros permanecem de boa?…

  • Ola, sou a dona do Balaio. Posso ser arrogante, talvez…mas não neste episódio. Apenas como cidadã aprendi desde que toda lei que não presta deve ser questionada, Lalisa. Sim, garantir um espaço cultural na cidade é algo muito importante. Tanto que volta e meia nem o poder público consegue manter sob sua responsa. Ma,s especialmente, considero que todas as casas estão mesmo acima desta Lei do silêncio, assim como todo artista, assim como toda boemia da capital do maior país da América Latina. Todas as Casas que escrevem o imaginário desta cidade estão mesmo acima desta Lei do Silêncio. Se alguns séculos atrás pintores, escritores, tivessem este mesmo entendimento, não teríamos nossos grandes tesouros da pintura, escultura, poesia, música… Este é um bom debate. Mas, acima de tudo nosso dever !

  • Mariana

    Concordo com a Lalisa.

  • Lalisa

    Concordo com a Robertinha. Não moro perto e não sei se as queixas procedem ou não – quem sabe se os jornais ouvissem o outro lado? Parece-me bem estranho este processo em que a autora é racista e homofóbica em audiência e ninguém faz nada. Se for verdade, é uma pessoa problemática. Mas acho igualmente radical e desrespeitoso desqualificar as pessoas que reclamam do barulho. Barulho, sim, porque só é música para quem está lá no local, o que nem todos querem ou podem fazer. Para quem está longe, é só ruído, batidas que as vezes fazem vibrar as janelas e que irritam quem quer dormir, estudar ou simplesmente ouvir a sua própria música. Achei bastante arrogante da dona colocar o local como algo tão fundamental para a cidade que estaria acima da lei. No início do ano já havia saído uma matéria a respeito em que ela protestava por ser obrigada a colocar proteção acústica, o que me parece o mínimo para um bar com música. Estranho também é ter alvará, segundo ela, permitindo música sem ter proteção acústica. Só mostra a desorganização dos serviços de fiscalização e a confusão nas regras. Não acredito que os 55 decibeis sejam medidos dentro do estabelecimento, isso seria bizarro. Também me questiono sobre as regras valerem para bares e não para clubes e shows, que incomodam muito, mas muito mais. Acho tudo mal explicado e sempre desconfio quando uma história tem um só lado e esse lado é radical e apela para os insultos. É como o Cristiano falou, apostou na impunidade e perdeu. Não podemos reclamar do país quando nos negamos a cumprir as leis das quais não gostamos. Parece faltar bom senso para aceitar uma solução do meio: instalação de proteção acústica adequada. E não, não me considero mal amada, gosto de boteco, de estar rodeada de amigos, de cidade com vida. Mas também gosto de respeito.

  • Cristiano

    O Balaio é ótimo, mas já havia sido notificado preventivamente sobre a conduta. Como muitos que não ligam pras leis que temos, pagou pra ver. Perdeu.

  • Maria Marta de Souza Mchado

    Oi, Carol!!! Os bares devem ser preservados, claro!!! Eles são a alegria da cidade. Veja o exemplo de BH, minha cidade natal: é a capital dos “barzinhos”. Mas deve ser de acordo com a “Lei do Bom Senso”. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra! Acho que se vai chegar a um consenso sobre o problema dos “decibéis”.
    Outra coisa: um palpite para seu tão simpático blog. Vá ver, e admirar, a exposição de fotos no Shopping Boulevard, ali, no finalzinho da W3. O nome da mostra é A CARA DE BRASÍLIA. São 50 fotografias belíssimas de pessoas que simbolizam, realmente, a cara de Brasília. Entre outras pessoas, estão lá: Osvaldo Montenegro, Ernesto Silva, Ellen Oléria, Mercedes Urquiza, Murilo Grossi, Mara Alkamin, Nicolas Behr, Renata Jambeiro, o jogador de basquete Pipoca, Welder Rodrigues, etc. O fotógrafo se chama Alexandre Fortes. A exposição ficará lá por um mês, a contar de ontem, dia 10/06. Meu filho, o Dj Tiago Pezão, tb está lá, numa foto sensacional… Grande abraço, Maria Marta Machado

  • O fundamental na diversidade é que todos sejam respeitados. Inclusive quem pede o cumprimento da lei do silêncio. Imagino que é só o Balaio colocar isolamento acústico e pronto, reabrir. Ocupar a cidade, sempre. Ocupar os espaços públicos, sempre. Mas respeitar o semelhante, isto isto, é mais importante do que tudo, e pra sempre. Né não?

    • Mariana

      Isso mesmo!

  • Nada contra a vida noturna, a música, a cultura, ou seja lá o que, ou quem for, mas imagino que não foram só os 55 decibéis que fecharam o Balaio… Se fosse só isso, bar nenhum poderia abrir na cidade, carro não poderia circular na rua etc. Se isso está acontecendo lá e não está acontecendo em outros lugares, há que se saber o porquê.

    Mais uma vez: nada contra minorias, nem maiorias, mas assim como tem negro que vê racismo em tudo, tem gay que acha que todo comentário é homofóbico, e me parece que o Balaio tá indo pelo mesmo caminho…

    • marieta

      Super apoiado!

  • Aline Alonso

    Apoiado e assinado, Carol. É incrível como existe tanta gente mal amada em Brasília. Credo!

  • Triste essas coisas que estão acontecendo aqui em BsB… 🙁