Onde hoje é silêncio, amanhã será cigarra

Em 25 de setembro de 2014 por Dani Cronemberger

cigarra

Quando procurei um apartamento pra alugar, o critério número um era a janela – tinha de ser ampla e com uma linda árvore na frente. A muito custo, consegui encontrar uma janela pra chamar de minha, com um abacateiro gigante e verde praticamente grudado à sala. Atrás dele, um flamboyant vermelho pra completar a perfeição.

Sim, eu ainda acreditava na perfeição como algo atingível. Não, eu não sabia que embaixo dessas árvores vivia um exército de milhões de cigarras, que sairiam de baixo da terra todas ao mesmo tempo e invadiriam os galhos do abacateiro (aquele, grudado à sala), prontas para gritar mais do que criança com fome no shopping.

Aliás, devo um agradecimento especial à Carol por me ensinar que as cigarras podem passar até 17 anos embaixo da terra. Obrigada, amiga, por me presentear com a imagem dessa cena perturbadora: o dia em que as cigarras-zumbis saem da cova para assombrar a nossa vida.

Incentivada pelo conhecimento zoológico da minha companheira de blog, resolvi pesquisar sobre a vida das cigarras e encontrei outro dado assustador. Diz o pessoal da internet que a cigarra costuma urinar na hora em que ela foge da gente – ela elimina o excesso de líquidos para levantar voo com o corpo mais leve, o que facilita a fuga.

Peraí: então as 189 cigarras que já entraram no meu apartamento e que fugiram de mim, enquanto eu corria e gritava jogando revista pela janela e batendo a cabeça na tela do computador, ainda fizeram xixi como loucas na minha sala? Obrigada, Carol. Obrigada, internet.

Queria dizer que ainda amo você, janela. Você também, abacateiro. Não me arrependo de ter me juntado a vocês, não, nem por um segundo. Só aprendi que perfeição não existe e que, para ter o paraíso 11 meses por ano, é preciso um mês (ou até menos) de sacrifício. Claro que vale à pena.

PS1: Este texto é dedicado à cigarra que deu um “oi” pra mim ontem. Num gritinho rápido, ela me disse: “Cheguei.”

PS2: A foto acima é do meu amigo, meu salvador, meu super-homem, me salvando de uma cigarra transgênica. Foi tirada da fresta da porta da cozinha. Obrigada, Mateus.

  • Eduardo

    Olá, muito legal o blog! Acabei descobrindo não sei como, não me lembro, mas provavelmente tentando procurar se também tinha gente que gostava de Brasília.

    Mas acho surpreendente como esse blog está em sincronia com o que está acontecendo: hoje de manhã encontrei uma cigarra malandramente repousando na beira da minha janela. Mas sem nenhum alvoroço, ela ficou ali, de boa, uma meia hora, até eu botar ela pra correr. Parecia o black kamen rider do cerrado. Até tirei uma foto.

    Outro dia li um texto da padaria, que fica do lado da minha casa, também. E que alguém também tinha comentado comigo no elevador. Quando li aqui comecei achar que era pegadinha.

    Enfim, parabéns pela iniciativa de mostrar que Brasília também tem seu charme.

  • Às vezes é melhor manter a ignorância sobre alguns assunto, né, Keka?! kkkkk Beijo grande!

  • Pois eu mudei de país e sinto uma falta danada do canto das cigarras… claro que dentro de casa já é um pouquinho demais, mas concordo que a tela contra insetos ou o gato ajudam bastante. Mas veja bem, tela OU gato. Se não um gruda no outro e o outro gruda no um. 😉

    • Ixi, e agora?! Já tava quase decidida a colocar tela….! :O

  • Henrique

    ponha aquelas telas fininhas, muito comum nos apartamentos do plano piloto porém muita gente ainda não usa. nunca mais você precisará se preocupar com elas DENTRO da sua casa, nem nenhum outro bicho

  • Daniela Cadena

    E eu um dia fingindo q tinha coragem de pegar a cigarra!!!!
    No final eu é Mateus fomos humilhados pela intimidade q a Nima tinha com esses seres!
    Ela pegou com a mão, numa boa!!!

  • Quando mudei pra Brasília, há 9 anos, escrevi a crônica “A mentira de La Fountaine”, sobre estes bichos enormes. Passei a sair de férias em outubro para sumir da cidade, morta de medo. Agora tenho telas removíveis em todas as janelas do meu apê e sou muito, muito mais feliz! Rs

  • Erika

    Texto bom demais!

  • Lisaura

    Muito bom o título e o texto! Kkk
    Mas o episódio da revista pela janela merecia um post só dele… 🙂

  • O melhor das cigarras, pra mim, é o sinal de que a chuva tá vindo. Claro, a seca é o meu período favorito em Brasília, mas depois de meses infinitos (e da cidade estar marrom de tanta seca), a chuvinha é sempre bem vinda. 🙂
    Existe um equilíbrio aí entre a época de seca e a época de chuva, né? Quando a gente cansa de uma, vem a outra…

  • Hiran

    Apenas um comentário: HAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAAHHAHAHAHAHAHAHAHAAHHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHAHAHAHAHAHHAHAHA.
    Beijos.

  • Dani, você tem gato? Eles são sensacionais em caçar as cigarras (e qualquer outro inseto que se mexa). Inseticida ecologicamente correto (e confesso que adoro vê-los torturando as cigarras que invadem meu apê…rs…)

    • Fernanda Guimaraes

      A Rê tem razão! Adote um gato e nunca mais irá se preocupar com qualquer tipo de inseto na sua residência! 😉

    • Ayana

      A Dani tem gato, ô se tem.

      • Sim, sim, tenho dois. Mas a invasão é alienígena, gente. Nem eles dão conta…

    • Ana Chalub

      E seus gatos conseguem? O meu vai louco atrás mas é muito lerdo, coitado, não faz nada!

  • André gagliardo

    Uma vez vi um espetáculo de dança por aí que tinha uma cortina de cascas de cigarras com luz atrás. Era a coisa mais linda de se ver. Foto clássica cigarril!

  • Ariela

    Pois depois que me mudei do plano piloto sinto saudades da sinfonia das cigarras, dos abacateiros e dos janelões maravilhosos!!!!

  • Débora

    hahahahaha, o melhor título e o melhor texto ever. obrigada por me apresentar esses dados tão precisos sobre as cigarras, que eu também desconhecia.