Obrigada, Balaio

Em 16 de dezembro de 2015 por Dani Cronemberger

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Poucas vezes vi tantas mensagens de solidariedade na minha timeline como hoje, com a repercussão do fechamento do Balaio Café. E o mais importante é que não são mensagens só de lamento. Quase todas têm o mesmo conteúdo: o de agradecimento. Um lugar fecha as portas e as pessoas se levantam imediatamente para dizer “muito obrigada por tudo”. Não pode ser um lugar qualquer.

Não, nesses 10 anos de funcionamento, o Balaio nunca foi um lugar qualquer, e não haveria de ser com uma dona como a Ju Pagul, mulher poderosa, de presença e ideias francas, militante cultural, feminista, agitadora de muitas áreas. Ali, na pracinha da 201 Norte, ela não instalou só um café. O Balaio sempre foi um espaço de resistência, de discussão. Vários seminários e oficinas de movimentos sociais tiveram o café como abrigo.

E também tinha a diversão, claro. Quem frequentou aquele lugar tem alguma(s) história(s) marcante(s) pra contar. A programação musical era a mais diversa que você pode imaginar, e a gente se misturava em todos os ritmos, de carimbó a música eletrônica, de forró pé de serra a pop, rock, jazz e… carnaval. Ah, os carnavais do Balaio. A festa, qualquer uma, sempre foi divertida, livre, diversa. Era uma casa aberta a todas as idades, gêneros, prazeres, amores – em uma cidade encaretada, era um lugar também necessário.

Nesta gestão do GDF, do governador mais boêmio de nossa história, um autoproclamado defensor da cultura, o Balaio sofreu as mais pesadas intervenções. Houve bomba de gás, fechamentos e multas e mais multas. O problema do café com a vizinhança não é segredo – o barulho é alegadamente a principal questão, mas o motivo real sempre foi contestado pela Ju.

Ela afirma ter feito reformas para adequar a casa à Lei do Silêncio e, ainda assim, continuar sofrendo sanções. Sexualidade, religião e militância: Ju afirma que suas características pessoais serviram de motivo para intolerância. Com mais de R$ 30 mil em multas, o funcionamento do café ficou inviável.

Quando começamos a escrever aqui sobre a necessidade de revisão da Lei do Silêncio, algumas pessoas entenderam isso como uma defesa à barulheira generalizada no ouvido alheio. O diálogo, ultimamente, tem se dado nesse nível de exagero. A questão é bem mais complexa e ponderada, quem acompanha a discussão do movimento “Quem Desligou o Som?” sabe disso.

A nossa preocupação sempre foi, além da asfixia cultural da cidade, a fiscalização seletiva: só o Balaio Café incomoda a esse ponto? A lei atual, mal feita e irreal, coloca no mesmo balaio (não resisti ao trocadalho) um barzinho, uma rave, um matagal inóspito e um hospital. A cidade inteira está fora da lei. E uma lei que coloca todos fora dela está dizendo o seguinte ao Poder Público: já que não dá pra punir todo mundo, pode escolher que tipo de lugar/evento/manifestação/movimento você vai cercear, fique à vontade. Critério para quê?

Dito isso, queria te fazer dois convites. O primeiro é se despedir do Balaio, que fica aberto só até domingo. Vamos lá, brindar ao fim de ótimos momentos e ao início de outros. É triste que a cidade perca um lugar feliz assim, mas a cidade se mexe constantemente. Espero que a energia do Balaio se espalhe em outros novos e velhos lugares.

O outro convite é para o Carnaval Silencioso, evento maravilhoso que acontece na sexta-feira, dia 18. Não sabe o que é? Escrevi aqui na última edição. Se a ideia já é ótima, na situação atual das coisas, então… Vai ser a melhor forma de exorcizar esta semana. Como diz a Ju do Balaio: “A nossa resposta sempre foi e sempre será beijos, risos, tambores, bailados e todo prazer!!!!”

Bora?
Balaio Café
Aberto até domingo, dia 20. Vamos lá dar um abraço coletivo!
(Depois da publicação deste texto, foi marcado um evento de despedida do Balaio. Vai ser no domingo, a partir das 14h, com muita arte, muita música e muita gente já com saudades. Evento no face: aqui)

Carnaval Silencioso
Sexta, dia 18
Concentração às 19h, no Beirute Norte (107N). Saída do bloco às 20h30 em direção ao Pinella (408N)
Evento no face: aqui

  • Tania

    Existe solução. Brasilia possui diversas areas em q nao há residencias. Os comerciantes tambem podem investir em contençao do som. A situacao de quem chega em casa (nosso refugio maximo) e simplesmente não consegue dormir pq o barulho é insuportavel somente é entendida por quem compartilha o sofrimento. Sem falar do desconforto em não poder ler um livro ou ver um filme tranquilo, sem ouvir musica ou gritos alheios. Nao conheci esse Balaio mas compreendo os moradores. Já passei por problema igual. Tive q ir à Justiça e ao Ministerio Publico. Problema resolvido com base no q aprendi desde criança: o seu direito termina qdo começa o do outro…

  • Ruiter

    Casa muito interessante. Fico indignado com a indiferença do GDF. Ocorre que precisamos aprender que o Estado é que nos s serve, mas contrariamente, nos massacra. Fica a reflexão: aqueles que frequentam a casa não são os mesmos que sempre defenderam o serviço público como é, o sindicalismo, o esquerdismo, o socialismo? Veja que o atual governo é de cunho socialista. Vamos refletir?

  • Geilsa Bizarra

    Ju, lance um outro Balaio no SCS e revitalize esse espaço, vai atrás da sua intuição, linda.Sei rei ki

  • Karol

    Excelente post. Pra mostrar que o “barulho” é o menor dos “problemas” que o balaio supostamente tem.

  • Silvia

    Fica Balaio e saiam as motocicletas com escapamento aberto que transitam livremente pelas madrugadas enlouquecidas e enlouquecendo nossos sono. A tal Lei do Silêncio se silencia nesses casos porquê?

  • Bruno, voce tem toda razão. Prq encontraram então qualquer outro lugar?

  • Bruno

    Por que n encontram um lugar pro balaio no setor comercial ou bancário? Ou no conic?
    Sempre achei q esses lugares deveriam ser mais bem aproveitados pra vida noturna